Clusters e Competitividade das Franquias

Em uma economia globalizada, muitas vantagens competitivas dependem de fatores locais; por isso ganham importância as concentrações geográficas de empresas de um mesmo setor como critério de seleção de ponto comercial e de entrada em novos mercados.

Agora que as empresas podem adquirir capital, bens, serviços, informações e tecnologia em todo o mundo, muitas vezes apenas com um clique de mouse, boa parte do conhecimento acumulado sobre a concorrência precisa ser revista. Teoricamente, mercados internacionais mais abertos, transportes e comunicações mais velozes deveriam diminuir a importância competitiva da localização geográfica das empresas. Afinal, tudo pode ser eficientemente comprado à distância. Certo?

Errado. Acompanhe este raciocínio: se a localização geográfica perdeu importância, por que são maiores as chances de descobrir uma boa franqueadora no segmento de confecções em Brusque-SC, ou um fabricante de calçados em Franca-SP, ou uma fábrica de perfumes em Curitiba-PR?

Por causa dos clusters. Clusters (grupos, agrupamentos ou aglomerados) são concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e organizações correlatas. Na prática, são formas organizacionais de se proteger contra os efeitos perversos da globalização, pois desenvolve-se um sistema microrregional competitivo capaz de permitir o relacionamento entre pequenas e médias empresas com o mundo.

Os clusters podem ser organizados de modo a gerar economias de escala a seus participantes, desde que partam de uma filosofia política cooperativa. Podem negociar centralizadamente com fornecedores, aumentando assim seu poder de barganha. Empresas que atuam em áreas complementares podem desenvolver um modelo de gestão capaz de gerar sinergias, especialmente na geração e transferência de tecnologia. A verticalização da região (alto nível de integração entre as empresas) significa ocupação de todos os espaços econômicos e surgimento de oportunidades, propiciando por conseqüência alto índice de empreendedorismo.

Os clusters são uma forma alternativa de organização da cadeia de valor. A proximidade física facilita a coordenação e amplia a confiança mútua. E isto sem impor às empresas as características de inflexibilidade da integração vertical ou os desafios de criar e manter associações formais como redes, alianças e parcerias.

Um cluster de empresas e instituições independentes e informalmente vinculadas representa um modelo organizacional robusto, afetando a capacidade de competição das empresas de três maneiras principais:

aumentando a produtividade das empresas sediadas na região, pelo maior acesso à mão de obra especializada e a fornecedores indicando a direção e o ritmo da inovação, mediante acúmulo e documentação de informações, que sustentam o futuro crescimento da produtividade do grupo estimulando a formação de novas empresas, expandindo e fortalecendo o próprio cluster, melhorando sua imagem no mercado. A reputação das malhas de Brusque, dos calçados de Franca ou dos perfumes de Curitiba beneficia o marketing das empresas ligadas a estes segmentos.

Um cluster não parte do nada, geralmente tem raízes históricas e se molda a partir de restrições políticas, legais, sindicais ou financeiras. Note-se, no entanto, que as vantagens de escolher regiões com salários e impostos mais baratos podem ser ilusórias se a infra-estrutura, a logística e os fornecedores forem ineficientes.

Este assunto tem sido abordado pelo estrategista Michael Porter no âmbito da competitividade entre países, destacando a importância dos poderes públicos na viabilização deste formato de negócios. No Brasil, O Estado de Santa Catarina possui um programa de implantação deste modelo de desenvolvimento: chama-se Fórum Catarinense de Desenvolvimento, ou simplesmente Forumcat, e se constitui numa ONG (Organização Não Governamental) criada em 1995.

FRANQUIA E LOCALIZAÇÃO

O assunto é muito relevante para redes de franquia, pois a detecção de um cluster em uma cidade é critério para seleção de ponto comercial. Se o melhor ponto para a montagem de um fast-food é onde houver aglomeração de opções de alimentação, este raciocínio vale também para bens de consumo duráveis ou semi-duráveis de alto valor unitário, do tipo que se pesquisa antes de comprar, caso de eletrodomésticos, materiais elétricos e pneus. Com a peculiariedade que os segmentos citados trabalham com mercadorias que são commodities, nas quais o produto é padronizado e sempre idêntico, uma vez que independe da loja onde for adquirido. Neste caso, é bom instalar sua loja bem no meio do cluster, aproveitando o fundo de comércio alí presente sem precisar partir do zero, e procurar se diferenciar não diretamente nos preços e sim nos serviços prestados, agregando assim valor ao negócio.

A mensagem para franqueadores é clara: sem uma estratégia de seleção de ponto comercial bem estruturada e de acordo com o perfil de seu produto ou serviço, você arrisca construir uma rede sem fundações, com resultados muito díspares em função do ponto comercial onde vier a instalar seu negócio. A mensagem para novos franqueados também é clara: a menos que o processo de escolha de local para instalação de sua unidade atenda a uma série de critérios, você deve saber que sua unidade franqueada pode não funcionar tão bem quanto os resultados das demais unidades da rede sugerem.

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