Franquia vai Crescer no Brasil

O crescimento das redes de franquias no Brasil está nas mãos dos franqueadores. A medida que a relação custo/benefício fique cada vez mais clara para franqueados e profissionais que atuam no segmento, a tendência será de crescimento. A previsão é do consultor Daniel Bernard,economista e mestre em Administrador de Empresas pela USP, especialista na área de Franchising, fundador da NetplaN Consultoria, sediada no Paraná e especializada no segmento de Franquias .Nesta entrevista ao FranquiaShop, ele – que também mantém um portal voltado às franquias – faz uma análise cuidadosa da situação atual e futura do franchising brasileiro:

FranquiaShop
Como está o setor de franquias no País, setor este que já foi tido como muito promissor para investidores e empresários? Continua sendo uma boa alternativa apostar neste segmento?

Sr. Bernard
Em primeiro lugar, não considero franquias um segmento de mercado, com base em “características homogêneas”. Ocorre que franchising é uma técnica de negócios, que simplesmente pode ser bem ou mal aplicada. Existem empresas que trabalham com o sistema de franchising em uma variedade enorme de setores, a meu ver não comparáveis diretamente entre si. Podemos avaliar as empresas do setor de locação de automóveis, ou de fast-food, ou de confecções, ou de perfumaria-cosméticos, que trabalham com o sistema de franchising, e elaborar uma análise para cada um destes setores. Esta percepção do mercado de franchising no Brasil por si só já elimina a possibilidade de simplificar uma análise, afirmando numa perspectiva dicotômica que o setor de franquias no Brasil estaria indo bem ou mal.Podemos afirmar que o uso correto da técnica do franchising é o que existe de maior potencial para alavancar o crescimento de empresas que atuam em determinados ramos da economia. No setor varejista, por exemplo, com menos de 1% dos pontos de venda no Brasil, o faturamento das redes de franchising chega a representar cerca de 18% do faturamento global do setor. Em serviços especializados, as redes que atuam com franchising possuem um terreno fértil para se desenvolver, podendo contar com profissionais qualificados oriundos de médias e grandes empresas em busca de uma virada profissional. Muitas vezes estes profissionais, mais avessos ao risco, contam com o apoio do ex-empregador, que tem contratado empresas de consultoria em franchising. EStas, em parceria com empresas de recolocação, estão orientando executivos a se tornarem empreendedores de sucesso.Para saber se vale a pena ou não investir neste “segmento”, deve-se ter em mente que investir em franquias é algo totalmente diferente de aplicar recursos financeiros em outras alternativas de investimento. Em meu livro, deixo claras as circunstâncias nas quais um sócio investidor que aportasse capital a uma rede seria benvindo. E isto somente aconteceria no caso de empresas franqueadoras abrirem seu capital, preferencialmente na forma de S/A de Capital Fechado. Estas estórias de franquia cooperada, fundos de investimento em franquias (na atual estrutura de mercado de capitais no Brasil), e todas as demais formas de uma pessoa investir somente capital em unidades franqueadas, simplesmente não funcionam. Se um franqueado possui menos capital do que o necessário para montar uma unidade de determinada rede, ou ele terá de redimensionar seu investimento para caber em seu bolso, com a anuência da franqueadora, ou simplesmente deverá pensar em investir em outro negócio. Quem não seguiu estes conselhos básicos é quem deve está puxando o coro dos descontentes com o sistema. A grande necessidade do setor hoje consiste em permitir que o franqueado potencial avalie um maior número de alternativas de investimento com maior transparência e isenção, e não mais se jogar despreparadamente num negócio só porque o primo ou o vizinho disse que era ma-ra-vi-lho-so. Ainda há poucos esforços consistentes no sentido de eliminar a assimetria de informações entre franqueador, franqueados e outros stakeholders (agentes que interagem com o sistema), apenas alguns bancos e alguns consultores se adiantaram para sanar esta deficiência do sistema.

FranquiaShop
Assim como outros setores, a área de franquia teve de se reestruturar para se adaptar as oscilações do mercado desde sua entrada no Brasil até hoje? Em caso positivo quais foram estas alterações?

Sr. Bernard
Há no momento mais de 48 mil pontos de venda franqueados no Brasil, distribuídos em cerca de mil empresas franqueadoras, segundo estatísiticas da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Equivale a dizer que em média, estamos com cerca de 48 pontos de venda por rede, contra 30 se observarmos dados de 1995. Em 7 anos, quem permaneceu no sistema aumentou sua rede, em média, em cerca de 60%. É um ótimo resultado, sem dúvida, mas esconde alguns aspectos importantes. Note-se que a ABF informa nestes sete anos que o número total de franquias no Brasil tem ficado na faixa de mil redes. E repare que estas mil redes não têm sido as mesmas mil redes, ou seja, tem havido uma entrada e saída de redes nas estatísticas da ABF da ordem de 15% ao ano. Ou seja, entram por ano 150 novas redes, e saem outras 150. É por esta razão que muita gente tem se perguntado, com perplexidade, se o setor de franquias tem sido tão promisor quanto o que se propalava até 1994.O ano de 1994 foi efetivamente um divisor de águas para as empresas que atuam com o sistema de franchising, pois foi neste ano que aconteceu o Plano Real, estabilizando a economia e incentivando muita gente a investir suas economias num negócio próprio. Além disso, foi neste ano que a Lei 8955/94, que regulamenta o sistema de franchising no Brasil, foi promulgada. Até este momento, as empresas que quisessem trabalhar com franquia estavam livres para desenvolver, cada um a seu modo, a formatação de seu sistema e, em especial, a Circular de Oferta de Franquia, ou seja, aquelas informações que são repassadas ao franqueado antes da assinatura do contrato de franquia. A mera exigência de se passar informações detalhadas aos franqueados potenciais sobre alguns aspectos que os franqueadores consideravam sigilosos, como faturamento, relação de fornecedores, e o detalhamento dos serviços que antes eram prestados de modo mais informal, levou muitas empresas a abandonar o sistema, mas não a lógica do sistema. Ou seja, deixaram de denominar seu sistema de franchising e passaram a identificá-lo como um sistema melhorado de concessão comercial, de licenciamento ou de representação. Todos estes outros sistemas coexistem com o de franquia, mas são menos regulamentados no que diz respeito ao suporte contínuo de gestão, que é o que diferencia o sistema de franchising destas outras formas de parceria empresarial.

FranquiaShop
Quais são as perspectivas do segmento de franquias diante da atual conjuntura? Esta opção de investimento empresarial tende a crescer entre nós brasileiros?

Sr. Bernard
Na medida que o setor segue seu processo natural de estruturação, o mercado tenderá a crescer na medida que as empresas franqueadoras consigam prestar serviços cuja relação de custo-benefício fique cada vez mais clara aos olhos de franqueados e outros stakeholders. O oferecimento de um suporte de gestão profissional eficiente depois de assinado o contrato de franquia, num nível qualitativamente interessante, costuma acontecer com redes com mais de 50 unidades, ou com redes que transformam sua economia de escala em benefícios reais a seus franqueados. Estaremos atingindo este limiar nos próximos anos. Repare que redes com dificuldades em arrecadar royalties e que não possuam unidades próprias nem trabalhem com outros canais de distribuição,são as primeiras a abandonar o sistema, pois não conseguem remunerar os serviços contínuos, que são o principal diferencial do sistema.

FranquiaShop
Para pequenos e médios empresários, estreantes ou não no setor, a franquia ainda seria uma melhor opção?

Sr. Bernard
Sim, caso não tenham experiência em nenhum setor de atividade e/ou caso percebam uma boa relação de custo-benefício nos serviços oferecidos.

FranquiaShop
E para o empresário de maior porte, franquear seu negócio também é um caminho mais seguro para o crescimento da empresa?

Sr. Bernard
Um empresário de maior porte pode simplesmente utilizar o sistema de franchising como um canal alternativo para a distribuição de seus produtos ou serviços, pois caso disponha de recursos e crédito, pode vir a montar filiais ou unidades-piloto em maior quantidade. O empresário de maior porte tem condições de se estruturar melhor internamente para atender sua rede de franquias, mas corre o risco de não dar muita bola para sua rede caso ela represente um resultado financeiro pequeno se comparado com o consolidado do grupo. Neste caso, deve gerenciar as franquias como se fosse uma unidade de negócios independente, atribuindo a um executivo-sênior o cargo de Diretor de Franquias, criando ainda um Conselho de Gestão com a presença obrigatória do dono do negócio.

FranquiaShop
Quais seriam as tendências para o segmento de franquias, em termos de áreas de atuação ou mesmo nichos de mercado no Brasil de hoje?

Sr. Bernard
Percebemos um grande potencial em mercados como: Esporte, Saúde, Beleza, Alimentação especializada/ fast-food, Perfumaria-cosméticos, serviços especializados. São setores com boa rentabilidade, poucas barreiras à entrada e as empresas trabalham com poucos concorrentes de peso (o mercado é pulverizado). Franqueadoras de serviços públicos estão pressionando para o aperfeiçoamento da Lei de Franchising, incluindo a regulamentação dos processos licitatórios. Poucas redes internacionais possuem diferenciais ou características que não possam ser desenvolvidas internamente. Muitas empresas do setor de confecção estão trabalhando com concessão comercial, oferecendo suporte de gestão de modo irregular, a pedido do concessionário. Mas isto não funciona, porque o brasileiro só costuma pedir ajuda quando já está com a corda no pescoço.

Leituras e consultas recomendadas por nosso entrevistado:

Livro: Franchising: Avalie este investimento
Autor: Daniel Alberto Bernard
Editora: Atlas

Livro: Como escolher a Franquia Certa – As melhores práticas
Autor: Daniel Alberto Bernard
Editora: Atlas

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